segunda-feira, 29 de julho de 2013

Mais uma vez, amor...!






Ah, o amor! Já escrevi alguns textos sobre isso, por estar às voltas com o questionamento e a elaboração de teorias a partir de vivências minhas, observações de amigas e também na clínica, pensando junto com clientes e observando os caminhos escolhidos. Não tenho a pretensão de esgotar um tema que é filosófico e envolve tantas variações em si e em seus pares, às vezes trios, grupos, enfim. “Estou a amar” soa para mim a melhor forma de conjugar e ser fiel ao significado desta ação.
E tal conjugação me lembra que esse estado de constante atenção e cuidado (que são de outra ordem que não a financeira/alimentícia) ficou  distanciado do macho, homem de família. Por tempos, cabia à mulher sonhar com o príncipe encantado e ao homem o papel de homem ser o provedor da família. Então ser pai era sustentar a família, ser marido, idem, sustentar a família. À mulher cabia ser romântica (sonhar, acreditar e esperar por uma relação boa para ela, onde seria cuidada, sentiria- se segura. Ser romantica para manter-se com o olhar adiante e suportar o presente), ser mãe (cuidar dos filhos), ser boa esposa (cuidar da casa, satisfazer o marido). Só que agora as mulheres também trabalham, provém a família, logo, fazem o que os pais fazem  também.  O problema é que esta mudança aconteceu, a mulher angariou outro papel, e o papel do homem continuou paralisado. Foi difícil para eles aceitarem essa outra fonte de renda, algumas vezes superior. Alguns homens vivem bem compartilhando as atividades da casa (vitória!), mas o príncipe encantado ficou relegado à uma realidade impossível. E é aí que pergunto: por que as mulheres ainda não se acham no direito de querer e poder ter um companheiro que cuidem delas e da relação como elas o fazem? O príncipe encantado foi reduzido ao campo do impossível e a aceitação do “real” permaneceu, e ouço cada vez mais frases de conformismo, de adaptação ao “homem real” que na grande maioria dos relatos é um homem com falhas de caráter. O homem real, assim como qualquer ser humano em qualquer tipo de relação (hetero ou homoafetiva) é capaz de avaliar seus valores e conduta e resignificá- los e mudá-lo, mas enquanto as mulheres se justificarem, não procurarem por alguém mais compatível e se entregarem à falta de opção, eles não serão compelidos à mudança, pois é cômodo estar nesse lugar onde cuidar da relação cabe somente à uma pessoa. Acreditem, seja você quem for, com qual opção for, que existem “alguéns” lá fora que serão mais compatíveis com seus valores, caráter, moral, cada um mais, ou menos, mas não se prendam à nenhuma relação por falta de esperança, por medo de ficar sozinha, por ter sido aquele(a) primeiro(a) que mesmo com seus problemas (pontos a melhorar, eu diria, mas muitas vezes só quem sabe o que melhorar é quem sofre com a falta da mudança) dividiu o sonho do casamento. Eu acredito! Não só no homem (mulher)ideal, no príncipe que formará um casal ideal (já vi alguns casais, e ideal não significa ausência de problemas) mas também no homem real, que assim como seu oposto, por ser real não significa que trai, é frio, individualista, agressivo, etc, mas que o real pode ser gentil, cuidadoso, companheiro, sincero, etc (e todos os requisitos que só você sabe quais são e nega). Essas coisas de “encontros verdadeiros” existem, sim, e não devemos nos conformar com o real machista, que infelizmente sobrevive, como fantasma, influenciando mulheres à serem machistas sem saber. Acreditar nisso não nos torna inferior, mulherzinha, apenas mostra que podemos e sabemos escolher por nos valorizarmos e valorizarmos nossa vida independente, da qual abriremos espaço para quem realmente valha a pena entrar nela. Homens, eu sei que está difícil encontrar o seu lugar em meio a tantas mudanças culturais, mas acreditem, vocês podem ser mais: mais que o provedor, mais bonitos, mais cuidadosos, mais seguros!

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Brincadeira de amar


               

Ando pensando que as pessoas entendem tudo errado sobre quando falam das armadilhas do amor. Geralmente baseando-se na observação dicotômica entre contos de fadas e relacionamentos fracassados, acham... querem achar, que a armadilha está em ser pego e preso de surpresa, arrebatado pelo sentimento. Perder o controle nessa armadilha deliciosa de sentimento. Armadilha volúvel. A realidade é sempre tão mais criativa e surpreendente...e mais difícil de compreender, de identificar, de viver. A verdadeira armadilha do amor está em descobrir aonde ele está, numa brincadeira de esconde-esconde. Começa com a pergunta principal de constatação difícil: aonde ele foi parar? Aí você descobre que o que você achava que tinha era a primeira peça que o amor te pegou: era a paixão disfarçada. Desilusão. A paixão é uma grande gozadora!  Então começa a brincadeira. Primeiro você tem que superar a frustração de sentir que perdeu um jogo ganho quando o que achou foi a paixão, e ela já não está nesse jogo. Agora você tem que procurar o amor em outros lugares não tão óbvios, fora de si mesmo. Por onde começar?  Aí que mora a armadilha. Se você não olhar direito, não vai encontrá-lo, e ele se esconde nas peculiaridades, nos detalhes.

Entre tantas peculiaridades idiossincráticas que somente a quem tem intimidade é possível perceber,  há cílios enrolados a noite, de piscadelas de olhos, de piadas sobre quem ligou pela manhã, de um jeito humano e crítico de ser, de um olhar que convida sempre pra um abraço gostoso...
Você descobre que ama detalhes do outro, da relação, "...detalhes tão pequenos de nós dois...", diria o Roberto Carlos.
Clichê!
Não sei porque é fácil ignorar logo esse, o que parece o mais sensatos dos clichês, pois está no meio termo entre o conto de fadas onde o amor se retroalimenta por si só, sem exercício de nenhuma das partes, e o destinado fracasso da instituição falida da relação monogamica e duradoura, geralmente propagado por céticos, divorciados ou as duas coisas juntas! Por que por vezes é tão difícil aceitar a presença dos clichês?!
 Mas o principal deles, o que realmente é preciso admitir e permitir, é  querer viver feliz, brincando de esconde-esconde, para sempre!.. ...

...intermitentemente solteiro(a) ou com alguém escolhido para vida toda!
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A partida




                                    


É difícil partir...partir significa divisão, e geralmente a divisão em dois, de tudo que um dia foi dividido por dois.  

Muito se perde.

Por isso que a hora do adeus é doída, na mistura dos dois, o que se vai é como se algo próprio estivesse sendo arrancado.

Era vidro e se partiu!

Mas partida também significa recomeço. O fim pode ser o ponto de partida para algo novo, diferente.

Estou aguardando a partida começar!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

a vida por um cabo

Enquanto percorria os olhos por alguns vídeos caseiros que assistia, meus pensamentos se divergiam em opinião. Em um primeiro momento pensei: que gostoso e divertido podermos utilizar os diversos dispositivos disponíveis hoje para gravar cenas dos primeiros passos do filho querido, da primeira vez que provou uma laranja, o sono tranqüilo ou a peraltice para podermos rever, enviar para família e amigos distantes e até mesmo mostrar para esta criança quando crescida. O presente ganhado, a primeira viagem juntos, a noite no barzinho com os amigos. Momentos que valem um registro, sem dúvidas. Na contramão da previsão da nostalgia futura que necessitará desses recursos audio-visuais, coloquei-me no lugar do filmado ou fotografado, da criança que vê a mãe atrás de uma câmera. Neste instante considerei o quanto a relação está mediada por um aparelho eletrônico qualquer, pela vontade de se mostrar ou não para quem registra ou ser mostrado por quem registra, do distanciamento que se consolida. Imagino agora que as crianças têm uma missão ainda maior: não buscarem somente a admiração e afeto dos pais, mas também de um público. Buscar o pai ou mãe por trás daquele objeto. Falamos de relações mediadas pelo computador, eu diria, mediadas por eletrônicos. Que infeliz percepção. Antes da moda das páginas de relacionamento ou de vídeos, já era tão difícil o encontro entre pessoas. Existiam todos tipos de defesas que permeavam as relações e tornavam-nos distantes do eu saudável: o medo, a inveja, a mágoa, os traumas passados, que muitas vezes são colocados à frente em um encontro casual ou em uma discussão, na criação dos filhos, enfim, nem bem aprendemos a lidar com estes sentimentos, ou seja, com nós mesmos e já nos aparataram com dispositivos que permitem esse distanciamento. Distanciamento entre quem filma e quem é filmado, entre quem eu sou, quem eu gostaria de ser, como gostariam de me ver, como eu gostaria de ser visto.

Há um tempo fiz uma viagem. Todo o caminho de beleza esplendida. Contudo, a pessoa que me acompanhava havia esquecido a câmera fotográfica e reclamava a todo momento da bela paisagem que não podia ser registrada, chegando ao mau humor e quase eu também entrando neste estado. Olhei para a paisagem, para o que me era oferecido e que me colocava em cheque: qual seria minha escolha, contemplar, ficar em paz ou queixar da vida, da falta de sorte, o mau humor. Optei pelo belo, pela harmonia. Essa câmera realmente exerce muito poder nas pessoas. Te faz pertencer ao mundo virtual, em todos os possíveis significados dessa frase . Pergunto: onde deve ficar o verdadeiro registro?

domingo, 13 de junho de 2010

Prazer x felicidade

Nesses últimos meses fui levada a pensar no tempo e suas co-relações por conta de um Congresso que me mobilizou não só a pensar, como a agir (pude presenciar, enquanto diretora, um momento lírico e completamente espontâneo no sociodrama que eu e Clarissa fizemos, com o título “Quanto vale o seu tempo?”). A partir de então, fui imbuída de pensamentos em cadeia: tenho aproveitado meu tempo? – Como tenho feito isso?- a vida é feita de momentos? – o que torna um momento bom? Momentos de prazer? Mas a felicidade, que enfim, é o que eu busco, é um sentimento duradouro...
Os momentos de prazer podem produzir um bem estar, mas estes são efêmeros. Simbióticos, porém distintos, o prazer não tem nada a ver com a felicidade. A sociedade hedonista tem propagado que o prazer imediato te deixa feliz, por isso compre, experimente, se jogue, ao invés de seja, saboreie, não faça da sua vida um jogo, pois há muito o que perder. Momentos (estou compreendendo aqui o prazer como fruto do momento: aquele momento que come o chocolate, que compra aquela roupa, que usa aquela droga) tornam-se inesquecíveis...Ok, pode ser, mas quando meus clientes chegam falando sobre sua compulsividade e sua depressão, esses momentos nada valem de nada e cabe a dura tarefa de encontrar beleza numa vida constante, rotineira, cotidiana e torná-las em vidas felizes. As pessoas esquecem que também temos momentos de decepção, de mágoa, de irritação que estão completamente fora de nosso controle e nos derrubam desse pedestal de momentos. A imagem que me vem à cabeça é daquelas pilhas de produtos de supermercado. Imaginem uma dessas, de prazeres que você pode comprar, que estão ali à disposição e foram montados, logicamente, da base ao pico. Só que um desavisado chega e tira de repente aquele produto que estava bem embaixo, porque será colocado um outro tipo de produto, desprazeroso, que também deve começar da base, afinal, é o primeiro. O que acontece?Logicamente, a pilha inteira cai!
Não quero generalizar e dar uma receita de bolo da felicidade para a vida. Não é isso! Podemos ser felizes em uma área e infeliz em outra. O que vai diferenciar no todo é a proporção de importância que cada uma delas tem na vida de cada um. Então, se o vazio se refere ao afeto que não tem dentro de casa, não adianta comprar compulsivamente, não preencherá. Se tem problemas no trabalho, não adianta nada buscar prazer na bebida ou na droga. Se o sonho é constituir uma família, sair transando com qualquer cara satisfará o corpo, mas não a alma. Pelo contrário, todos esses prazeres vão remeter sempre à insatisfação, pois depois da compra vem a culpa, da droga, a depressão, da transa ocasional, a solidão. Não estou falando que não devamos cultivar o prazer, mas sim de qual deve ser a função dele, em qual medida. O prazer deve ser vivido, mas o valor tem que ser dado às coisas certas.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

sofrimento e crescimento...

A dor é inevitável, o sofrimento é opcional...

Envelhecer é inevitável, crescer é opcional...

Não sei de quem são, mas gosto muito!

as palavras, as ações e a alegoria da caverna

Já há muito tempo que as pessoas tentam converter defeitos em qualidades e vice-versa, tentando passar batido e ainda sair de boa pessoa. Ao menos, nas entrevistas de emprego, ambiente mais técnico, com profissionais preparados, já é possível detectar quando aquela velha pergunta “qual é seu maior defeito?” tem como resposta uma qualidade camuflada na falsa modéstia:” _ ah – diz o candidato - eu sou perfeccionista!”.
Fora desse ambiente, é possível perceber o quanto as pessoas camuflam respostas, invertem papéis e dissimulam para escapar à responsabilidade de uma decisão, de atos (quando se está fora da relação em que acontece isso, pois é difícil detectar no exato momento em que acontece e conseguir sair dessa armadilha). Assim, as conversas são cada vez mais superficiais e as relações viram um jogo de xadrez, onde quem não topa entrar no jogo, já perdeu. E perdem muito. E perdem todos os jogadores, na verdade, só que um tem a ilusão de que sai ganhando. Perdem todos, já que temos que aprender a conviver com a superficialidade, com os jogos, com as “mentiras boas” (a sofrer e a fazer), para estarmos preparados e não nos abatermos tanto com as pessoas. E assim que se inicia o efeito “bola de neve”. Pessoas falsas levam à outras pessoas o medo, estas, machucadas, tendo geralmente como opção duas vertentes: ou se escondem ou atacam, que, em qualquer alternativa aceita, acarreta uma defasagem nas relações. Claro, existem aqueles que apenas recebem o “simulacro”, elaboram e conseguem seguir em frente sem transpor para outras relações o mal que sofreu em anteriores, mas ainda conheço poucos que assim o fazem e os admiro muito.
Assim é fácil e até compreensível o porquê do sucesso de redes sociais mediadas pelo computador: mostro o quanto de mim quero mostrar, o quanto que não tenho em mim que gostaria de mostrar e assim mantenho relações “distantes” com as pessoas (e claro, faz parte das “boa mentiras” – as que garantem inconscientemente a segurança do eu- negar que se faz isso até a morte e jurar perfis repletos de sinceridade). Assim é mais difícil de sair machucado, tudo acaba com Buddy´s Poke (aquele bonequinho que representa a pessoa no orkut) se esmurrando, quase nunca culminando numa lágrima virtual. Triste é ver tais relações no mundo real...
Afinal, por que o real do (de) ser dói tanto? Será que temos tão pouco de bom para mostrar que não confiamos mais que valores positivos ainda existam, não só em si, mas também no outro, o tanto suficiente para podermos simplesmente existir, ser, pleno?
Sei que estamos cientes do que há de bom em nós. Acredito que saber qual a medida certa destes valores em si é um começo para sair do “falso” que o é por ser exagerado ou minimizado determinado valor. A partir de então, permitir dar esse “melhor” para alguém, e então, compartilhar. Quero viver em um mundo onde a surpresa não seja por atos de bondade, honestidade, e que o ruim seja motivo de indignação e combate, e não de conformismo e pertença ao “normal”. Respeitar uma opinião diferente, um ato diferente é completamente diferente de submissão ao que se vê, ao que se impõe. Podemos sim, e devemos ter iniciativa e colocar nossa opinião. Quem cala, não só consente, mas também se responsabiliza por sua escolha.