domingo, 13 de junho de 2010

Prazer x felicidade

Nesses últimos meses fui levada a pensar no tempo e suas co-relações por conta de um Congresso que me mobilizou não só a pensar, como a agir (pude presenciar, enquanto diretora, um momento lírico e completamente espontâneo no sociodrama que eu e Clarissa fizemos, com o título “Quanto vale o seu tempo?”). A partir de então, fui imbuída de pensamentos em cadeia: tenho aproveitado meu tempo? – Como tenho feito isso?- a vida é feita de momentos? – o que torna um momento bom? Momentos de prazer? Mas a felicidade, que enfim, é o que eu busco, é um sentimento duradouro...
Os momentos de prazer podem produzir um bem estar, mas estes são efêmeros. Simbióticos, porém distintos, o prazer não tem nada a ver com a felicidade. A sociedade hedonista tem propagado que o prazer imediato te deixa feliz, por isso compre, experimente, se jogue, ao invés de seja, saboreie, não faça da sua vida um jogo, pois há muito o que perder. Momentos (estou compreendendo aqui o prazer como fruto do momento: aquele momento que come o chocolate, que compra aquela roupa, que usa aquela droga) tornam-se inesquecíveis...Ok, pode ser, mas quando meus clientes chegam falando sobre sua compulsividade e sua depressão, esses momentos nada valem de nada e cabe a dura tarefa de encontrar beleza numa vida constante, rotineira, cotidiana e torná-las em vidas felizes. As pessoas esquecem que também temos momentos de decepção, de mágoa, de irritação que estão completamente fora de nosso controle e nos derrubam desse pedestal de momentos. A imagem que me vem à cabeça é daquelas pilhas de produtos de supermercado. Imaginem uma dessas, de prazeres que você pode comprar, que estão ali à disposição e foram montados, logicamente, da base ao pico. Só que um desavisado chega e tira de repente aquele produto que estava bem embaixo, porque será colocado um outro tipo de produto, desprazeroso, que também deve começar da base, afinal, é o primeiro. O que acontece?Logicamente, a pilha inteira cai!
Não quero generalizar e dar uma receita de bolo da felicidade para a vida. Não é isso! Podemos ser felizes em uma área e infeliz em outra. O que vai diferenciar no todo é a proporção de importância que cada uma delas tem na vida de cada um. Então, se o vazio se refere ao afeto que não tem dentro de casa, não adianta comprar compulsivamente, não preencherá. Se tem problemas no trabalho, não adianta nada buscar prazer na bebida ou na droga. Se o sonho é constituir uma família, sair transando com qualquer cara satisfará o corpo, mas não a alma. Pelo contrário, todos esses prazeres vão remeter sempre à insatisfação, pois depois da compra vem a culpa, da droga, a depressão, da transa ocasional, a solidão. Não estou falando que não devamos cultivar o prazer, mas sim de qual deve ser a função dele, em qual medida. O prazer deve ser vivido, mas o valor tem que ser dado às coisas certas.

3 comentários:

  1. Concordo. Acontece que as empresas na verdade não estão vendendo os produtos e serviços e sim os momentos por trás dos produtos e serviços. Quando você compra determinado produto ele pode até gerar uma exitação imediata, mais na realidade o que você deseja como felicidade é ser elogiado pelo que compra e usa. Por isso as propagandas,v.g. de cervejas são em lugares bonitos e em rodas de amigos. O que você deseja necessariamente como felicidade não é tomar a cerveja e sim ter um momento agradável com os amigos mesmo que a cerveja gere um extasy( euforia, prazer, excitação etc.) imediato. O que te deixa viciado em cerveja. O que fica depois dessa satisfação geralmente é um sentimento de angústia, medo e solidão, o que gera uma nova busca por produtos, e que te coloca num ciclo vicioso. Você compra hoje o produto top do mercado e em três meses já tem um bem melhor que o seu. Ai ( o seu pode estar novo inclusive) que você vai querer o mais novo. Tem pessoas que preenche esses vazios com compras, outras com religião, outras com esportes e outras com nada, sofrem caladas as dores. O que no final fará diferença em quem é feliz ou não é justamente a qualidade das coisas que ela escolhe para substituir estes momentos de sentimentos ruins, ou seja, a percepção de que a felicidade é o caminho e não um destino. A felicidade não se alcança, ela está no caminho. Admiro assim, aqueles que tem essa percepção e fazem cada dia da jornada um dia feliz. Afinal, quanto mais longe da luz se está, mais perto estará da escuridão. Então é tudo uma questão de luz.

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  2. p4 - Excitação
    p10- Exctasy
    p - 23"Corrigindo: Ela não só está no caminho como ela é o próprio caminho"

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  3. ah sim! concordo mais com ela É o caminho do que está no caminho...porquê senão, seria uma busca incessante e dependeria do caminho...mas as pessoas que fazem o caminho!

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