Ah,
o amor! Já escrevi alguns textos sobre isso, por estar às voltas com o
questionamento e a elaboração de teorias a partir de vivências minhas,
observações de amigas e também na clínica, pensando junto com clientes e
observando os caminhos escolhidos. Não tenho a pretensão de esgotar um tema que
é filosófico e envolve tantas variações em si e em seus pares, às vezes trios,
grupos, enfim. “Estou a amar” soa para mim a melhor forma de conjugar e ser
fiel ao significado desta ação.
E
tal conjugação me lembra que esse estado de constante atenção e cuidado (que
são de outra ordem que não a financeira/alimentícia) ficou distanciado do macho, homem de família. Por
tempos, cabia à mulher sonhar com o príncipe encantado e ao homem o papel de
homem ser o provedor da família. Então ser pai era sustentar a família, ser
marido, idem, sustentar a família. À mulher cabia ser romântica (sonhar,
acreditar e esperar por uma relação boa para ela, onde seria cuidada, sentiria-
se segura. Ser romantica para manter-se com o olhar adiante e suportar o
presente), ser mãe (cuidar dos filhos), ser boa esposa (cuidar da casa,
satisfazer o marido). Só que agora as mulheres também trabalham, provém a
família, logo, fazem o que os pais fazem também.
O problema é que esta mudança aconteceu, a mulher angariou outro papel,
e o papel do homem continuou paralisado. Foi difícil para eles aceitarem essa
outra fonte de renda, algumas vezes superior. Alguns homens vivem bem
compartilhando as atividades da casa (vitória!), mas o príncipe encantado ficou
relegado à uma realidade impossível. E é aí que pergunto: por que as mulheres
ainda não se acham no direito de querer e poder ter um companheiro que cuidem
delas e da relação como elas o fazem? O príncipe encantado foi reduzido ao
campo do impossível e a aceitação do “real” permaneceu, e ouço cada vez mais
frases de conformismo, de adaptação ao “homem real” que na grande maioria dos
relatos é um homem com falhas de caráter. O homem real, assim como qualquer ser
humano em qualquer tipo de relação (hetero ou homoafetiva) é capaz de avaliar
seus valores e conduta e resignificá- los e mudá-lo, mas enquanto as mulheres
se justificarem, não procurarem por alguém mais compatível e se entregarem à
falta de opção, eles não serão compelidos à mudança, pois é cômodo estar nesse
lugar onde cuidar da relação cabe somente à uma pessoa. Acreditem, seja você
quem for, com qual opção for, que existem “alguéns” lá fora que serão mais
compatíveis com seus valores, caráter, moral, cada um mais, ou menos, mas não
se prendam à nenhuma relação por falta de esperança, por medo de ficar sozinha,
por ter sido aquele(a) primeiro(a) que mesmo com seus problemas (pontos a
melhorar, eu diria, mas muitas vezes só quem sabe o que melhorar é quem sofre
com a falta da mudança) dividiu o sonho do casamento. Eu acredito! Não só no
homem (mulher)ideal, no príncipe que formará um casal ideal (já vi alguns
casais, e ideal não significa ausência de problemas) mas também no homem real,
que assim como seu oposto, por ser real não significa que trai, é frio,
individualista, agressivo, etc, mas que o real pode ser gentil, cuidadoso,
companheiro, sincero, etc (e todos os requisitos que só você sabe quais são e
nega). Essas coisas de “encontros verdadeiros” existem, sim, e não devemos nos
conformar com o real machista, que infelizmente sobrevive, como fantasma,
influenciando mulheres à serem machistas sem saber. Acreditar nisso não nos
torna inferior, mulherzinha, apenas mostra que podemos e sabemos escolher por
nos valorizarmos e valorizarmos nossa vida independente, da qual abriremos
espaço para quem realmente valha a pena entrar nela. Homens, eu sei que está
difícil encontrar o seu lugar em meio a tantas mudanças culturais, mas
acreditem, vocês podem ser mais: mais que o provedor, mais bonitos, mais
cuidadosos, mais seguros!